Cada vez mais as organizações se parecem com seres humanos em todos os seus aspectos. No entanto, esse tipo de pensamento em que as empresas são mais entidades coletivas formadas por pessoas, onde o trabalho funciona de forma orgânica e fluída, e não exatamente como uma organização estática e limitada, não é novo. Mas, a percepção que temos dessas transformações ligadas com as mudanças e o avanço da ciência e o resultado de suas evoluções, é uma conexão de pensamento nova.
Dessa forma, percebemos que tudo está interligado. Um puxa o outro, uma nova descoberta abre caminhos para muitas outras, e assim compreendemos que não é possível “puxar um fio, sem mexer com o novelo todo” - que é exatamente o que nos orienta o Prefácio da quarta edição do livro O Espírito Transformador de Jair Moggi & Daniel Burkhard.
Na visão antroposófica as organizações são entidades coletivas formadas por grupos e pessoas que têm com as entidades coletivas que as abrigam uma relação ontológica, existencial, sutil e inseparável. Portanto, ao intervirmos com essas pessoas e esses grupos, acabamos interferindo nas entidades como um todo, já que os primeiros são co-criadores dessas entidades o qual fazem parte. Logo, ao mexermos com um indivíduo, consequentemente mexemos com a organização, e vice-versa.
As empresas, como entidades maiores oriundas de ações humanas em qualquer nível organizacional, do presidente ao operacional, repetem, no mercado em que atuam e na sociedade em geral, as virtudes e as não-virtudes das pessoas que as compõem. Como exemplo, valores, comportamento e medidas de inovação, além de questões mais profundas de caráter como: ética, inteligência, agilidade, flexibilidade, comunicação, velocidade, coragem, ousadia, criatividade, dentre outros aspectos.
Assim como as pessoas, as empresas também têm um ciclo de vida, com suas crises nas etapas de concepção, nascimento, desenvolvimento, crescimento e morte. A diferença básica é que o ser humano tem uma finitude física e a empresa em seu fundamento não, já que ela é fruto do mundo das ideias, podendo transcender através de outras pessoas e permanecer no tempo se os problemas ligados à sua essência forem tratados com sabedoria e repassados adequadamente.
Na essência, as organizações são as pessoas que nela trabalham, o resto são prédios, máquinas, sistemas, processos que além de constituírem fisicamente e materialmente a organização, apodrecem e se desatualizam constantemente com o passar do tempo. No momento em que essa verdade é assumida, muda-se completamente a abordagem ao tratar dos problemas de uma organização, já que não se lida mais com um organismo único, frio, apático, efêmero e distante da realidade e das pessoas.
Ao olharmos as empresas com base em conceitos arquétipos, aplicáveis a qualquer tipo de organização empresarial, verifica-se que estes conceitos tem a vantagem de serem percebidos de imediato pelas pessoas em qualquer nível da organização, uma vez que são conceitos de essência oriundos de sabedoria eterna, e não de modismos que mudam ao sabor dos ventos e das estações e que padecem dentro dessas pessoas e continuam através dos seus atos.
Tudo o que existe dentro da realidade tem um fundamento arquetípico. Os arquétipos são energias vivas, inteligentes e conscientes, e como já foi dito, não há nada de novo em baixo do sol. Porém, entender como funcionam os arquétipos é de uma importância extrema, pois é possível, desta maneira, estarmos mais preparados, abertos e acessíveis para tirarmos o melhor que a vida pode nos oferecer.
Portanto, como visto, quem faz de fato as mudanças acontecerem nas empresas são as pessoas que as compõem. Respeitando as culturas, os valores, as biografias e os contextos próprios, analisando suas tendências, as pessoas poderão encontrar, em si mesmos, e logo, dentro das organizações, os recursos e as condições necessárias às mudanças, descobrindo novos caminhos de transformação e evolução na construção de um futuro melhor para todos.
A metodologia antroposófica pressupõe um trabalho com processos contínuos de desenvolvimento integrado, elaborados a partir da realidade de cada cliente, o que traz benefícios por longos períodos, garantindo a auto-sustentação de um clima de mudanças contínuas a partir da cultura e dos valores da própria empresa, independentemente de apoio externo. Esta abordagem se propõe caminhar junto com os clientes na realização desse processo, apoiando, incentivando e mostrando alternativas com base numa visão atualizada da empresa, focada em resultados, tendo como pano de fundo a economia globalizada e todos os seus efeitos.
As empresas que tem trabalhado com essa abordagem apresentam melhores resultados operacionais e tornam-se mais qualificadas para enfrentar a competição. Identificam claramente seus objetivos, as políticas e os padrões de ação para o futuro. Fazem mudanças em seus processos de forma humana e consolidam novos paradigmas de gestão, baseados nisso. Desenvolvem a qualidade total tendo em vista a qualidade das pessoas. Voltam-se inteiramente para as necessidades e os desejos dos clientes. Integram-se melhor com o
meio ambiente e com a comunidade a que pertencem, num processo de incentivo à cidadania e à empatia.
São transparentes nas informações e nas comunicações horizontais e verticais, internas e externas, tornando-se mais ágeis e melhorando sua imagem. Conseguem a sinergia entre os colaboradores, que se tornam mais conscientes e comprometidos com a empresa, integrando os objetivos organizacionais aos individuais. Desenvolvendo, por conta disso, processos decisórios baseados na participação e na delegação consciente de responsabilidades, abrindo uma rede de ação e reação.
Aumentam, naturalmente, o respeito humano e profissional, eliminando as fronteiras internas e externas, e passam a trabalhar os conflitos sob forma de confrontação positiva, caminhando rumo ao espírito da cooperação. Identificam-se com a inovação permanente e adotam atitudes de ousadia e criatividade. Criam estruturas organizacionais enxutas, flexíveis e orgânicas que reagem rapidamente aos impulsos do mundo externo. E, por fim, consolidam procedimentos de governança corporativa consistentes com sua realidade, seu estágio de maturidade e sua visão de futuro, colhendo frutos mais honestos, porque fazem o bem a todos e, portanto, tornam-se mais felizes.
Edição | 1705
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